O autor cria para uma análise mais aprofundada sobre a questĂŁo racial do Brasil; a “Fábula das TrĂŞs Raças”, estipulando assim o branco, o negro e o Ăndio como peças chave desse estudo. Vale a pena ressaltar aqui que há entĂŁo, uma supremacia entre as raças, ou seja, uma divisĂŁo hierárquica de predominância valorativa entre os sujeitos. Na verdade, essa pirâmide entre as cores de pele, já Ă© sentida desde momentos longĂnquos na HistĂłrica brasileira, mas foi durante o Antigo Regime, pela autoridade da fĂ© e dos reis que esse conceito cresceu, diminuindo a importância da diversidade (conceito impensável para a Ă©poca) atravĂ©s da legitimação dos seus poderes institucionalizados.
O “Formalismo JurĂdico” impregnado nestas instituições e descrito pelo autor em sua obra: “DigressĂŁo: A Fábula das TrĂŞs Raças” demonstra que atravĂ©s da maçante forma da lei, a ideia de supremacia racial se deu com mais legitimidade. Em Portugal, quem nĂŁo obedecia as normas de dinastia das famĂlias e das formas de tratamento, tudo com previsĂŁo legal, era levado para receber sanções. Outro fato lembrado pelo autor Da Matta foi o processo de libertação dos escravos que nĂŁo emancipou os negros desta ideologia muito menos da concretude da realidade social, apenas ficou na letra fria da lei e do ordenamento jurĂdico, haja vista que muitos foram para as ruas, sem condições de trabalho sobrevivendo sob as decisões dos brancos. Tal análise pode ser comparada ao “Choque de Ordem” que vem se instalando pelas metrĂłpoles brasileiras, com o efeito de produzir o afastamento desses indivĂduos e a permanĂŞncia da hierarquia branca sempre instalada e dominante.Na perspectiva popular, “A Fábula das TrĂŞs Raças”, exprime, numa visĂŁo otimista, a possibilidade de integração entre as raças, de realizar uma forma prĂłpria de pensar a cultura brasileira, e de idealizar o modelo desejável de sociedade. Já sob o ângulo erudito, o autor revela que a sociedade brasileira Ă© inviável, pois Ă© formada por mestiços. Já sob o pensamento de Gobineau a idĂ©ia do “cruzamento” entre as raças Ă© visto como algo diferenciado, objeto de estudo de outra questĂŁo. Para ele, todo tipo de preconceito Ă© sempre visto por uma questĂŁo determinista, pois Ă© por ela que eles nascem. Para o povo brasileiro, raça Ă© a mesma coisa que etnia, que Ă© igual a cultura. Essa padronização de pensar veio da Europa, sem valor cientĂfico, e por isso todas essas questões se dĂŁo pelo conceito valorativo e de princĂpios.
Por fim, o autor brasileiro afirma que prefere estudar as raças como elas sĂŁo, respeitando sua individualidade, pois num pensamento “prĂ© moldado”, limitaria assim o conhecimento e a proposta de análise da multiplicidade de questões envolvendo o ser humano. A Antropologia busca isso; a riqueza na diversidade e as possibilidades incontáveis de se entender o objeto humano como produção inevitável de si mesmo.