Um texto muito interessante sobre a vida prática na polĂtica. O ensaio desenvolve um diálogo entre dois conceitos opostos: a democracia deliberativa e o ativismo. O sentido da narrativa Ă© apontar que essa relação acena para a permanĂŞncia de desigualdades institucionais. Em resumo, a democracia deliberativa supõe um debate argumentativo, um respeito ao processo e Ă s ideias. O ativismo, por sua vez aponta para um senso de justiça garantista. As duas ferramentas de articulação popular pressupõem a participação da sociedade, mas se diferem quanto Ă s dinâmicas de eficácia. Vejamos.
Segundo o autor, a proposta Ă© refletir e nĂŁo recomendar um lado em detrimento de outro. Esse diálogo entre dois mundos revela uma tensĂŁo crĂtica e uma conclusĂŁo: nĂŁo há complementariedade entre as duas opções. O autor faz uma distinção entre os dois movimentos numa performance de gĂŞnero e esteriĂłtipos. Pra ele, a democracia deliberativa simboliza o homem com seus traços de dominação, polĂtica, ideias, normativas, processos e virtude cidadĂŁ. Já o ativismo Ă© apontado como a mulher representando a paixĂŁo social, raiva e frustração. Evita a deliberação e requer ações mais eficazes como: panfletagem, movimentos de rua, manifestações e protestos. Nesse debate de sentido, o democrata enxerga o ativista como um agente que luta por interesses baseados em pressões, e por isso nĂŁo difere tanto dos traços deliberativos. O ativista se defende que sua luta Ă© pelo bem comum.
O debate mais interessante do texto está na reflexĂŁo acerca dos discursos entre as suas ideias e como elas se aprofundam na sistemática das desigualdades. Segundo o autor, o ativista possui uma narrativa mais "extremista" e o discurso deliberativo Ă© tratado como "razoável". No mundo real, Ă© esse discurso razoável que participa das decisões polĂticas. A democracia deliberativa neste sentido, apresenta procedimentos deliberativos que nĂŁo agregam e sim, excluem. As decisões, apesar de possuĂrem participação de agentes da sociedade, nĂŁo apresentam as tomadas de decisões por meio de pessoas comuns. O autor afirma que essas decisões dos poderosos perpetuam a desigualdade estrutural. Nessas circunstâncias, os cidadĂŁos estĂŁo do lado de fora das reuniões protestando. Essa Ă© a imagem criada para o ativista.
Por isso, a inclusĂŁo formal dos atores polĂticos nĂŁo Ă© suficiente. É preciso que haja participação popular efetiva nas decisões de poder. O ativista sugere que essas reuniões deliberativa estĂŁo carregadas ou viciadas de "vieses estruturais de desigualdades", ou seja, pessoas brancas, de classe mĂ©dia e saudáveis decidem as vidas de pessoas pobres, doentes e perifĂ©ricas. É o que se discute como "lugar de fala". As pessoas que sofrem precisam participar das demandas estruturais. No Ăşltimo tĂłpico, apontado como "Discurso homogĂŞneo" , a democracia deliberativa promove encontros formaos e criam poucas aberturas para ações efetivas de revisĂŁo das estruturas decisivas. Essa via perpetua desigualdades sob o pĂŞndulo da legitimidade.
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YOUNG, Iris Marion. Desafios ativistas Ă democracia deliberativa. Revista Brasileira de CiĂŞncia PolĂtica, nÂş13. BrasĂlia, janeiro - abril de 2014, pp. 187-212.