Foto: Manoel Roberto |
Assim que cheguei do Rio de Janeiro
me deparei com uma Muqui largada e sem brilho. Minha cidade natal possui vários
atributos: é a capital cultural do Espírito Santo, sedia um Festival de Cinema,
o Encontro Nacional de Folias de Reis, o Carnaval Folclórico dos Bois
Pintadinhos e o recente Festival de Cerveja que é um sucesso de público. Muqui
possui mais de 200 casas tombadas. É o maior Sítio Histórico do Estado. Com
tantos símbolos generosos, por que o povo não se sente feliz na cidade? Essa é uma questão complexa e que
depende de muitas variáveis, mas podemos estabelecer aqui uma análise breve.
Foto: Arquivo |
Sem uma economia do cuidado não há como uma sociedade se desenvolver com
sustentabilidade. Mesmo com tantos predicados a cidade não possui uma gestão
cultural eficiente. O gestor público é distante, as secretarias não se
articulam e não há espaço de articulação e apoio entre os movimentos sociais. Como construir
políticas públicas de bem estar social? Relendo o livro “De baixo para cima”, organizado
pelas brilhantes pesquisadoras Eliane Costa e Gabriela Agustini, criei uma
agenda de atividades populares. Com o esforço de colaboradores regularizamos a
Escola de Música, abrimos cursos de música para crianças e adultos e criamos um
curso de teatro. Todas as atividades são gratuitas e terão contribuição
solidária. Muqui possui um teatro de bolso. Uma
joia! Localizado no primeiro andar da Escola de Música, o “Teatro Neném Paiva”
comporta um pouco mais de cem pessoas. Como não há grupo de teatro permanente
na cidade, decidi criar um curso para adolescentes e adultos. Já estamos no
terceiro encontro. A proposta é estudar as teorias do teatro, ler textos
teóricos e críticos, praticar exercícios e jogos teatrais e o mais legal:
montar um espetáculo a ser apresentado à comunidade ainda em 2019. Iniciamos o
nosso trabalho com uma noite mágica! Ao som de música clássica, com a vela
acesa no centro do palco, rodeados por livros, nos conhecemos e criamos
intimidade. De Charles Baudelaire, Fayga Ostrower, Michel Guerin, Allan Poe,
Mário Quintana e Adélia Prado, nosso objetivo é desenvolver uma obra coletiva e
bem contemporânea, a partir do olhar do grupo.
Foto: Augusto Boal / Funarte |
No momento, o coletivo está lendo o
texto “Vivemos um tempo de guerra” de Augusto Boal e “A carta da Terra” de
Leonardo Boff. Se depender da sofisticação do estudo, uma grande peça está por
vir.
Foto: Reprodução / Instagram |