Diante de um
ano tĂŁo especial para o nosso paĂs Ă© inevitável nĂŁo discutirmos sobre polĂtica
e seus efeitos na sociedade. Mesmos nĂŁo sendo um tema muito aceito entre a
maioria da população em virtude de razões que discutiremos a seguir, a matéria
é fundante para a compreensão do sentido moderno de soberania, participação e
coletividade. Sendo o Brasil uma Nação Democrática, faz-se necessário um debate
cada vez mais interdisciplinar e aberto para alcançarmos a efetivação dos
direitos humanos que dĂŁo razĂŁo Ă atividade polĂtica do Estado.
O termo
polĂtica Ă© derivado do termo grego “politeia” que indica todos os ritos que
envolviam a cidade sociedade daquela Ă©poca. Por isso, a polĂtica Ă© tida como
uma ferramenta tĂŁo irradiante, tanto Ă© assim que o filĂłsofo AristĂłteles afirma
em sua histĂłrica frase que: “O homem Ă© um animal polĂtico”. Mas foi durante a
entrada da Era Moderna que o termo teve uma ascensĂŁo mais crĂtica por apresentar
uma saĂda aos ditames impostos na Era Medieval: era preciso fugir dar amarras
do imperialismo e do poder centralizador. E foram com as Grandes Revoluções que
as ideias começaram a surgir com mais vigor. Aponto a Revolução Francesa como
sendo o maior movimento que gerou a quebra das ideias absolutistas criando uma
noção de direitos sociais e autonomia coletiva.
A polĂtica
possui uma relação estreita com o poder. Se na Era Medieval o poder era
certificado pela “vontade de Deus”, na Era Moderna o poder passou a ser
legitimado através do contrato social, onde pela vontade de todos há a quebra
dos direitos individuais pelo bem comum, ou seja; o fim social. Na Era Contemporânea
com a garantia dos direitos humanos e no caminho de sua efetividade, a
democracia vem sendo tratada com certa irresponsabilidade transformando qualquer
polĂtico em “reis medievais”. O voto legitimador Ă© hoje uma “faca de dois
gumes”, pois efetiva o direito democrático e ao mesmo tempo gera, por conta de
uma ação instrumentalizada, uma apatia geral.
O que fazem
hoje esses falsos polĂticos; Ă queles que se vestem com uma toga de respeito e
boa aparĂŞncia social, que discursam a favor do socialismo e do bem comum, que
apoiam as grandes empresas e utilizam editais formalmente legais para
privilegiar amigos em suas redes de postos de gasolinas, para ter tanto poder?
É simples: eles se fantasiam como bons pastores religiosos criam uma imagem
revolucionária e são dotados de uma oratória peculiar; cheia de emoção e
lembranças comuns e familiares. Andam de forma simples e abraçam a todos
prometendo soluções rápidas para qualquer tipo de problema e ainda garantem que
vĂŁo dividir suas riquezas. Sobem os morros com muito vigor comendo o torresmo
de ontem do povo que sofre aguardando uma consulta ou um exame médico, mas
sorri mostrando-se fiel ao discurso patético e sem correção ortográfica. Esses
mesmos polĂticos sĂŁo rodeados de amigos, companheiros e ex-fiĂ©is por possuĂrem
laços de interesses em virtude de votos estreitos de “companheirismo e luta”. É
gente de sobrenome varonil, imponente e decadente dotados de prepotĂŞncia e
sacas de café. Vivem em seus casarões assombrados pelas lembranças de seus pais
e avĂłs que cobram por ascendĂŞncia social para que seus nomes estejam estampados
em ruas, avenidas, lustres de igrejas e estádios de futebol. São uma burguesia
gorda e de olhos azuis que até se unem aos morenos e ruivos, mas só por um
tempo; se possĂvel atĂ© o fim das eleições.
Nesse
movimento interessante de “falsa polĂtica” a classe artĂstica revela-se como
uma grande força movedora de conhecimento e reflexão, pois a arte como um todo
acaba por influenciar na forma como nos posicionamos no mundo seja para apenas
contemplar o espaço ou interagir com ele. A arte descortina qualquer ignorância
polĂtica. Grandes escritores como Charles Baudelaire e Mário de Andrade foram
personagens que tiveram um envolvimento polĂtico significativo para o
desdobramento da arte como um mecanismo de reflexão e participação social.
Baudelaire é responsável pela desconstrução do mito romancista do poeta e criou
uma poesia urbana, revolucionária e altamente crĂtica. Andrade criou uma sĂ©rie
de ações que considerava importante para a redemocratização do paĂs quando
assumiu o Departamento Municipal de Cultura em São Paulo e até quando pôde
trabalhou pelo fortalecimento do patrimĂ´nio histĂłrico cultural no Brasil. Esse
paralelo entre os poetas nos ajuda a compreender a visĂŁo complexa da vida sob a
Ăłtica polĂtica já que a poesia dos dois nos encaminha para uma atuação social mais
sofisticada e cheia de sentido.
Somos os
artistas de nossa Era. Precisamos reagir frente a toda injustiça preenchendo os
espaços que nos cabe de direito. Ocupemos as ruas, os blog’s e as igrejas para mostrar
que podemos sim discutir os temas com liberdade, pois Ă© daĂ que brota a vontade
de mudar. Nossos polĂticos sĂŁo o reflexo da conjuntura social por isso
precisamos estar sadios para escolhermos pessoas sensĂveis e que estejam de
fato, comprometidas com os valores que nos envolvem. Faço questĂŁo de mencionar a obra “Der Meridian” do escritor Paul Celan
onde declara que: “Quem tem a arte diante
dos olhos e no sentido [...] esquece-se de si. A arte cria o distanciamento do
eu” (Celan, P.: 1961, 48-9). Neste sentido, a poesia pode ser uma grande
ferramenta para que tenhamos polĂticos mais voltados para o “nĂłs” fugindo de
interesses pessoais desmascarando qualquer corrupção e formando um novo
conceito de poder, cada vez mais flexĂvel Ă s emoções da FamĂlia Humana.