A educação da sensibilidade

fevereiro 02, 2012

Não é de hoje que a sociedade sabe o trunfo que é o sentido de uma verdadeira escola, mas esta por sua vez não consegue atrair seus alunos. Numa mistura de conceitos, princípios e diretrizes a educação enfrenta seu maior desafio: reinventar-se numa época de intensas transformações. O pior é reconhecer que ao passo que a humanidade vence barreiras em plena era de novas tecnologias, verifica-se que muito se tem perdido na formação intelectual dos indivíduos. 
Parece claro afirmar que o processo de aprendizagem, sobretudo no Brasil, demonstra competência no ensino formal aplicando conceitos adequados quanto à técnica, mas nesse sentido, existe um enorme vácuo de eficácia, ou seja, essa mesma educação não gera uma sociedade sadia. Daí, estudiosos, cientistas sociais, professores, alunos, igrejas e toda sociedade vêem na busca do estudo da sensibilidade a saída ideal para a formação plurilateral das pessoas. 
As brigas, os desentendimentos, o crescimento da violência doméstica demonstram que não possuímos uma educação para os sentimentos e por isso encontramos “válvulas de escape” para nossas emoções mal fundamentadas. A plataforma de ensino aplicada pelo governo em suas políticas públicas é ineficaz, pois não representa os desejos e as expectativas reais de uma formação intelectual integral. A verdadeira educação está longe de ser alcançada se nossos profissionais continuarem a criarem uma “plataformização da cultura”, o que entendo como uma verdadeira aberração social. 
A educação não segue nenhum ritual e não pode encaixar-se num sistema mais ou menos adequado. Nossos profissionais talvez não saibam reconhecer as riquezas existentes nas pessoas que estão sentadas nas cadeiras escolares em busca de um sentido de vida e não de um diploma, mesmo que este personifique essa busca de ideal. Quando era criança ficava preocupado em aprender de tudo, como se tivesse a obrigação de saber todas àquelas matérias: cinco professores, cada qual com uma disciplina diferente e no entrar e sair de cada um apagava todas as informações para absorver outras. Um erro. Aprendi pouco depois que a palavra era somar, e não tinha nada a ver com Matemática. 
Pessoas “intelectualmente-tecnicamente” formadas muitas vezes escrevem na testa o seguinte bordão “não me comovo”. Isso é de uma ignorância absurda, pois é exatamente o contrário: a real educação passa obrigatoriamente pela interpretação das emoções, pois só somos formados disso. Pessoas técnicas demais são muitas vezes, vazias e tristes, não permitem que seus colegas sejam felizes e por isso não conseguem amar. 
Na aventura em nos desbravarmos sentimentalmente é preciso saber que nossa educação começa pela sensibilidade em reconhecer a nossa volta os sinais que a vida nos envia para criarmos o perfil ou a identidade que nos conecta com a realidade. O filósofo francês Gaston Bachelard tem um texto que diz que somos uma civilização ocular. Trabalhos e conhecemos o mundo através dos olhos, mas vou além; a busca pela educação como forma de aperfeiçoamento humano começa com os olhos da alma. É ela que traduz a nossa vontade interior de formar uma geração onde a educação não seja apenas técnica, mas sim ferramenta de felicidade.  

Tabuada 
No caminho pra escola 
Comprava um joelho de presunto e queijo 
E um real de balas de iogurte. 
Dividia por todos da turma e 
No final do recreio só restava o desejo
De viver tudo outra vez.

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