O poder da arte

janeiro 26, 2012

Todos os dias quando saio de casa encontro inúmeros pontos de beleza pelas ruas, mas não digo de boniteza e sim de matéria, pois é do que a arte se fundamenta, ou seja, é o seu meio. Algo não é simplesmente bonito ou feio, pois são termos flexíveis e subjetivos, mas a beleza que nos cerca é algo universal e indescritível. Tanto é assim que guerras terríveis são representadas em painéis, quadros, imagens ou textos e nós o reconhecemos como belos, pois são elementos da emoção humana. 
Quando representamos qualquer sentimento através da forma de beleza estamos de alguma maneira promovendo uma interpretação completamente transcendental, o que podemos dizer nesse momento, que se trata de arte. Eis aqui a área mais democrática, livre e involuntária. Escrever um texto, pintar um quadro, cantar uma música não é algo que se pode desejar simplesmente, mas apenas cumprir, já que se trata de algo que é invocado pela pura sensibilidade. 
Neste sentido, a arte revela-se como uma ferramenta potencializadora da capacidade humana de reconhecer na humanidade, os elementos da beleza como forma. A saída que temos de canalizar nossas emoções só se dá através da reflexão, que deságua naturalmente numa obra como um livro, um cd, um quadro, ou seja, a beleza. Essa interpretação não possui nenhuma função social, não se revela como catequética, nem política e não se enquadra em qualquer conceito de institucionalização porque se trata de uma produção humana de natureza mística. 
Todos nós já nascemos com essa referência. Mesmo achando que temos certa capacidade de compreender esses elementos, conseguimos perceber que até os mais miseráveis de conteúdo cultural têm dentro de si essa mesma ideia de arte. É o operário que vai ao concerto de ópera pela primeira vez e que se emociona sem saber o motivo, mas que quando percebe que alguém o viu soltando uma lágrima, logo trata de ficar durão novamente. É a moça na favela que passa o ferro quente no cabelo para esticá-lo para ir ao baile funk. É a senhora do barracão na roça que varre a casa com vassoura de mato organizando seu lar e pára na cortina dita como porta, põe as mãos na cintura e diz: agora está bom! 
Essa capacidade não é de compreensão racional e nesse momento a ciência precisa abrir mão de seu poder. Mesmo negando, somos seres puramente espirituais, pois temos uma capacidade sobrenatural de buscarmos ser eternos e com sentido. A arte tem esse poder e por isso precisamos de beleza diariamente em doses generosas. Essa é a maior doença humana da qual não há cura. Ainda bem. 

Grade Escolar 
Depois da escola, almoçava ao som do rádio
E ia pra varanda. 
Ali escrevia no ar e pintava tudo de roxo. 
Aprendia bem mais. 

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