Toxicômanos de Identidade

outubro 25, 2011

Assim que tomei o artigo de Suely Rolnik para leitura tive a sensação que entraria num mundo sem volta. Mundo onde a reflexão seria algo inevitável, pois conheço bem o meu coração inquieto frente às mazelas contemporâneas que estão deflagrando em mais mortes do que qualquer outra guerra na História. 
As batalhas subjetivas estão provocando um "rombo" inestimável nas famílias e isso precisa ser mais articulado sobretudo nos espaços de ensino. Muito bem. O texto abrange o tema subjetividade em tempo de globalização com uma linha de raciocínio bem linear ao afirmar que a tendência atual pela busca de  sentido de "ser" frente ao sentido global e flexível, esvazia o processo de criação e de pensamento. Logo, o sentimento de "vazio existencial" provocado pelo sistema de globalização, que almeja planificar as culturas acabam por trazer conceitos negativistas para a subjetividade. Assim termos como desassossego, inquietude, tristeza e até o sentimento de morte (como alerta a autora) são somados ao conceito de subjetividade.  
Na tentativa de "curar" essa falsa realidade as pessoas tendem a inclinar-se para as drogas que se dispõem a trazer um estado de prazer e uma zona de conforto com o objetivo (torno a dizer: falso) de trazer algum sentido de identidade. Nesse "kit de drogas" estão todo tipo de artificialidade e apatia tendo o mercado como "chefe" fazendo com que até o puro sentimento torne-se produto e os conceitos mais valiosos sejem depreciados. "Na contagem dos ovos" como dizia minha avó, vai restar pouca coisa desse ser humano. Freud quando diz a enigmática frase na Conferência XXXI: "Wo Es war, soll Ich werden", numa melhor tradução: "Ali onde isso fala, devo advir" acaba sintetizando a própria psicanálise dando à ciência um caráter de adaptação, ou seja, "o ego deve ocupar o lugar do id". A objetividade trazida pela inversão dos valores comerciais e "globais" faz com que a reflexão estendida seja trazida para o campo da praticidade buscando "verdades", "tratamentos" e "soluções". 
Nessa luta desenfreada pelo sucesso, pelo corpo perfeito, pelo equilíbrio mental, pela forma articulada de oratória, a pura essência do ser e a busca pela transcendência se esvai. A procura pela identidade deve ser um processo, uma busca pessoal que nenhum livro de auto ajuda pode revelar, pois o que somos é tão complexo que só a alma sensível é capaz de decodificar. Para os  que almejam essa humanização, dedico os trabalhos de Adélia Prado que numa ação eficaz  dá dicas de simplicidade e coragem. Na sua obra "Bagagem" (1976) nos convida para a percepção do cotidiano e no final dessa aventura literária uma descoberta sensacional: a metafísica se revela no real. Para aguçar nossa subjetividade trago "Solar":

"Minha mãe cozinhava exatamente:
arroz, feijão-roxinho, molho de batatinhas.
Mas cantava."

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