O poder humanizador da arte

agosto 26, 2012

André Malraux, primeiro Ministro da Cultura da França 

Quando os primeiros humanos pintavam nas suas cavernas imagens de animais e da natureza em que habitavam, estavam tendo uma experiência mística com a beleza. Era a primeira demonstração de que promoviam internamente um processo de significação que lhes ofereciam um afago às indagações daquele momento. Esses humanos perceberam que havia algo mais relevante que somente comer o boi, a planta, a fruta ou beber da água do riacho. 

Ao longo de sua caminhada, a Humanidade foi perdendo essa reflexão originária quando se deparou com as riquezas materiais e os conceitos pragmáticos. As descobertas de novos países, as dominações por territórios e as lutas por poder político e econômico, fizeram do homem um sujeito voltado para o controle das coisas. O pensamento filosófico e a religiosidade foram  perdendo espaço no mundo do pensamento. Com isso, construiu-se uma falsa educação de desenvolvimento onde o progresso deve pautar as ações do Estado e das comunidades. Com a crise dos países tradicionais verificou-se a necessidade de uma nova leitura dos sistemas econômicos, estes sendo dominados por valores e princípios afim de proteger o homem global. 

Nessa dimensão, a poesia e o pensamento filosófico ganharam fôlego nos debates transdisciplinares.  Em meio à teorias e frases de efeito, a contemporaneidade patina na busca permanente por sentido. Na educação tradicional, as pessoas aprenderam que para que algo seja considerado real é preciso que seja materializado, desprezando noções filosóficas e intangíveis, enraizando conceitos meramente estruturados. O problema é que por mais que essas mesmas pessoas busquem em sua total racionalidade, nunca alcançarão a compreensão do que significa a vida em sua plenitude. Neste sentido, o homem, para fugir do medo e da morte, busca através através da poesia e da arte, as ferramentas necessárias para transformar toda a limitação em algo superior e indizível

A arte através de sua forma é uma grande ferramenta para o desenvolvimento da educação e da busca pelo sentido das coisas. A beleza é democrática e livre, aberta a todos os indivíduos sem distinção de qualquer natureza e deve estar atrelada ao sentido de economia. Todos desejam a felicidade, a harmonia e o equilíbrio. A arte tem a capacidade de humanizar as pessoas, pois é capaz de instrumentalizar os sentimentos tornando-os obras materiais como um quadro ou uma música.  É por isso que mesmo um texto que foi escrito há décadas, continua tendo a mesma capacidade emotiva mesmo com o passar dos tempos. O ser humano tem uma luta inviável contra o tempo, pois este é fragmentado uma vez que a vida social é recheada de compromissos. Nesse sentido, quando um ser humano depara-se com uma obra de arte ele vê ali a oportunidade do registro fixo e permanente de sua emoção. É por isso que todos precisam de beleza. 

É uma pena que a produção intelectual contemporânea dê mais espaço ao artista que à própria obra de arte, esquecendo que o produtor é apenas uma ferramenta de um processo bem mais significativo. É preciso acreditar na arte como fonte inesgotável de beleza e sentido, pois representa uma ação bem mais eficaz e sofisticada para que a sociedade alcance o desenvolvimento que tanto busca, porém, de uma forma mais consciente.


Limitação
Vivo num quadrado.
Nele sou o que posso ser.
Deus grita em meu peito dizendo:
“Resiliência! Resiliência!”
Nas mãos Dele, vivo como ferro à espera de ser fundido.
Crente, aguardo o fogo nesse mesmo quadrado.
Espero a hora e rezo:
“Que seja agora. Que eu saia daqui!”. 

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