Política e Sensibilidade

setembro 23, 2012


Diante de um ano tão especial para o nosso país é inevitável não discutirmos sobre política e seus efeitos na sociedade. Mesmos não sendo um tema muito aceito entre a maioria da população em virtude de razões que discutiremos a seguir, a matéria é fundante para a compreensão do sentido moderno de soberania, participação e coletividade. Sendo o Brasil uma Nação Democrática, faz-se necessário um debate cada vez mais interdisciplinar e aberto para alcançarmos a efetivação dos direitos humanos que dão razão à atividade política do Estado.
O termo política é derivado do termo grego “politeia” que indica todos os ritos que envolviam a cidade sociedade daquela época. Por isso, a política é tida como uma ferramenta tão irradiante, tanto é assim que o filósofo Aristóteles afirma em sua histórica frase que: “O homem é um animal político”. Mas foi durante a entrada da Era Moderna que o termo teve uma ascensão mais crítica por apresentar uma saída aos ditames impostos na Era Medieval: era preciso fugir dar amarras do imperialismo e do poder centralizador. E foram com as Grandes Revoluções que as ideias começaram a surgir com mais vigor. Aponto a Revolução Francesa como sendo o maior movimento que gerou a quebra das ideias absolutistas criando uma noção de direitos sociais e autonomia coletiva.
A política possui uma relação estreita com o poder. Se na Era Medieval o poder era certificado pela “vontade de Deus”, na Era Moderna o poder passou a ser legitimado através do contrato social, onde pela vontade de todos há a quebra dos direitos individuais pelo bem comum, ou seja; o fim social. Na Era Contemporânea com a garantia dos direitos humanos e no caminho de sua efetividade, a democracia vem sendo tratada com certa irresponsabilidade transformando qualquer político em “reis medievais”. O voto legitimador é hoje uma “faca de dois gumes”, pois efetiva o direito democrático e ao mesmo tempo gera, por conta de uma ação instrumentalizada, uma apatia geral.
O que fazem hoje esses falsos políticos; àqueles que se vestem com uma toga de respeito e boa aparência social, que discursam a favor do socialismo e do bem comum, que apoiam as grandes empresas e utilizam editais formalmente legais para privilegiar amigos em suas redes de postos de gasolinas, para ter tanto poder? É simples: eles se fantasiam como bons pastores religiosos criam uma imagem revolucionária e são dotados de uma oratória peculiar; cheia de emoção e lembranças comuns e familiares. Andam de forma simples e abraçam a todos prometendo soluções rápidas para qualquer tipo de problema e ainda garantem que vão dividir suas riquezas. Sobem os morros com muito vigor comendo o torresmo de ontem do povo que sofre aguardando uma consulta ou um exame médico, mas sorri mostrando-se fiel ao discurso patético e sem correção ortográfica. Esses mesmos políticos são rodeados de amigos, companheiros e ex-fiéis por possuírem laços de interesses em virtude de votos estreitos de “companheirismo e luta”. É gente de sobrenome varonil, imponente e decadente dotados de prepotência e sacas de café. Vivem em seus casarões assombrados pelas lembranças de seus pais e avós que cobram por ascendência social para que seus nomes estejam estampados em ruas, avenidas, lustres de igrejas e estádios de futebol. São uma burguesia gorda e de olhos azuis que até se unem aos morenos e ruivos, mas só por um tempo; se possível até o fim das eleições.
Nesse movimento interessante de “falsa política” a classe artística revela-se como uma grande força movedora de conhecimento e reflexão, pois a arte como um todo acaba por influenciar na forma como nos posicionamos no mundo seja para apenas contemplar o espaço ou interagir com ele. A arte descortina qualquer ignorância política. Grandes escritores como Charles Baudelaire e Mário de Andrade foram personagens que tiveram um envolvimento político significativo para o desdobramento da arte como um mecanismo de reflexão e participação social. Baudelaire é responsável pela desconstrução do mito romancista do poeta e criou uma poesia urbana, revolucionária e altamente crítica. Andrade criou uma série de ações que considerava importante para a redemocratização do país quando assumiu o Departamento Municipal de Cultura em São Paulo e até quando pôde trabalhou pelo fortalecimento do patrimônio histórico cultural no Brasil. Esse paralelo entre os poetas nos ajuda a compreender a visão complexa da vida sob a ótica política já que a poesia dos dois nos encaminha para uma atuação social mais sofisticada e cheia de sentido.
Somos os artistas de nossa Era. Precisamos reagir frente a toda injustiça preenchendo os espaços que nos cabe de direito. Ocupemos as ruas, os blog’s e as igrejas para mostrar que podemos sim discutir os temas com liberdade, pois é daí que brota a vontade de mudar. Nossos políticos são o reflexo da conjuntura social por isso precisamos estar sadios para escolhermos pessoas sensíveis e que estejam de fato, comprometidas com os valores que nos envolvem.  Faço questão de mencionar a obra “Der Meridian” do escritor Paul Celan onde declara que: “Quem tem a arte diante dos olhos e no sentido [...] esquece-se de si. A arte cria o distanciamento do eu” (Celan, P.: 1961, 48-9). Neste sentido, a poesia pode ser uma grande ferramenta para que tenhamos políticos mais voltados para o “nós” fugindo de interesses pessoais desmascarando qualquer corrupção e formando um novo conceito de poder, cada vez mais flexível às emoções da Família Humana. 


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