A educação integral sofisticada

agosto 19, 2012


Diante das transformações advindas do processo de globalização dos últimos anos, a sociedade mundial sofreu uma flexibilização de valores, regras, normas e conceitos em virtude da aproximação de realidades entre regiões. Com isso, muitos avanços sociais, culturais, econômicos e políticos marcaram presença nessa nova fase global. Porém muito se estuda sobre a decadência dos institutos tradicionais que antes basearam a convivência entre os entes. Parece claro afirmar que o capitalismo como sistema complexo e rentável que é está levando o planeta a enfrentar mais uma grande crise intelectual.
Segundo a terceira edição da pesquisa; “Retratos da Leitura no Brasil”, apresentada em março deste ano à Câmara dos Deputados, revelou que a população leitora diminuiu no País. Enquanto em 2007 55% dos brasileiros se diziam leitores, hoje esse porcentual caiu para 50%. As explicações são as mais diversas e a busca por razões responsáveis por essa queda também, mas o que recai como principal é a falta de gestão desse setor para a melhora do acesso aos livros às demandas carentes. Triste ainda é constatar que o Brasil é um país de cultura televisiva; os dados da mesma pesquisa apontam que 85% dos entrevistados assistiam mais TV que liam livros ou outros periféricos. Se a qualidade dos programas não é sofisticada, cria-se uma nova edição mais atualizada do “Pão e Circo”. Daí surge a necessidade da sociedade criar novas maneiras de propagar a leitura nos mais diversos meios. Essa falta de brasileiros leitores está gerando um “agreste intelectual” nas universidades e faculdades do Brasil. Basta entrar nas bibliotecas de todas elas para encontrarmos bastante espaço e a falta de alunos. Mas essa não pode ser a primeira indicação, pois o país ainda avança na introdução de jovens ao ensino superior.
Nos últimos anos, muitas faculdades privadas do Estado do Rio de Janeiro vêm sofrendo uma série de crises. Muitas delas já fecharam suas unidades ou promoveram uma fusão com outras empresas para tentar sair dos problemas. Entretanto, o cenário educacional preocupa, pois se percebe a falta de administração das instituições, a superficial fiscalização dos órgãos reguladores e a carência na modernização das plataformas tradicionais. Aliás, esse talvez seja o maior dos de  todos os problemas. Diante dos avanços culturais, o sistema educacional do Brasil ainda não acompanha o progresso global, não por falta de condição econômica, mas por falta de interesse político e pela ineficácia dos gestores que coordenam a matéria no país.
Nesse sentido, a Sociologia apresenta a formação da estrutura social sendo a economia; a superestrutura que sustenta os outros andares dessa pirâmide. Ora, se todas as demais organizações estão subordinadas de forma intrínseca ou extrínseca às demandas econômicas, se faz claro afirmar que diante da atual conjuntura de crises mundiais; o capitalismo necessita de modificações. Quando no campo do Direito da Integração se discute as possibilidades de colaboração entre os Estados; há que se discutir duas correntes principais: a monista; que acredita que a soberania individual dos Entes não deve ser flexibilizada, e a corrente dualista: que pleiteia a aderência por todos os órgãos institucionalizados num mesmo bloco. Há ainda, uma nova corrente que já permite a discussão de uma teoria mista; onde a soberania estatal poderia ser líquida, mas que pudesse ser flexibilizada em casos específicos em virtude dos interesses econômicos comuns.
Porém, como bem se sabe; a soberania Norte Americana hoje ameaçada pela potência Chinesa, ainda se faz forte nas mais profundas relações comerciais que regem os países em desenvolvimento, fazendo destes, verdadeiros campos de interesses e exploração, repetindo os moldes das antigas colonizações. Algumas indagações ressoam pelo ar na busca de medidas para enfrentar tal opressão norte americana e atingir uma liberdade global, que muitas vezes surge como utópica. Entretanto, algumas alternativas têm estado presentes nos cenários independentes do país, fora dos padrões educacionais existentes.
A sociedade possui uma imensa dificuldade de pensar “poéticamente”, pois a razão; instrumento de trabalho advindo da Escola Iluminista; fez com que muitas vezes os pensamentos se engessem impedindo que novas formas de irradiação do conhecimento; como a intuição e a sensibilidade; fossem difundidos nos espaços acadêmicos. A educação jurídica tradicional está cumprindo brilhantemente o seu papel oferecendo cursos pragmáticos, formando bacharéis em grande escala, porém, sem sofisticação. Pensar de forma integral e sistêmica está sendo a maior dificuldade dos jovens brasileiros devido a falta de leitura, a introdução de modelos ultrapassados e fora dos novos contextos globais. Não existe crescimento profissional fora do contexto social interdisciplinar.
As novas discussões ressaltam a importância de gerar efeitos difusos através dos pensamentos interligados sobre as realidades locais, por meio de uma visão rica e plural. Sendo assim; matérias científicas sempre estarão envolvidas uma com as outras, pois as necessidades do tempo atual referem-se de maneira cada vez mais complexa. Pensar de forma sofisticada é abrir as possibilidades para novas dimensões do saber para que com o processo de desenvolvimento do conhecimento, pessoas que nunca tiveram acesso aos livros, à internet ou a qualquer outro modo de difusão, estejam preparadas e cientes da nova ordem mundial que já se vislumbra.
O filósofo Zigmunt Bauman, por meio de seu livro “Tempos Líquidos”, refere-se a esse tempo que está sendo domesticado pelos avanços tecnológicos e capitalistas, dificultando o processo de aprendizagem, emperrando as relações amorosas e gerando uma desestruturação dos valores morais. Com isso; as pessoas buscam respostas imediatas e soluções instantâneas esquecendo-se de que a vida é feita de momentos, sinais e ponderações. Na verdade, essa depressão social; gerada pela violência que é instaurada propositalmente, faz com que os indivíduos percam suas referências mais profundas e familiares, deixando de lado; o pensamento filosófico, a produção poética e transformando o poder cultural apenas em valor material.
          O grande desafio diante dessa conjuntura é proporcionar em cada realidade diária a difusão de novas plataformas do conhecimento com o intuito de gerar uma consciência global de que o pensamento e a intelectualidade é a maior riqueza de que as pessoas são dotadas. O problema é que durante muitos anos, fizeram com que essa informação fosse aterrada para que ordens dominantes pudessem continuar no poder. Porém, surge no horizonte uma mensagem de liberdade e desenvolvimento que faz com que a energia criativa do ser humano seja valorizada como um tesouro indisponível. Produzir uma educação integral sofisticada é possível se os agentes educacionais estiverem revestidos de técnica e sensibilidade para promover a abertura de caminhos necessários a fim de determinar a produção intelectual como o bem capaz de transformar qualquer realidade. 


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