A dor de ser gente

março 13, 2012


Repousa sobre mim uma emoção preguiçosa e altamente melancólica. Nesse momento, sinto-me como se minhas vísceras salpicassem de medo por motivo que nem sei ao certo descrever. Aliás, certas palavras só existem para dificultar o pensamento, pois muitas vezes nada e nada nem sempre são as mesmas coisas.  Ademais, creio que nem tudo pode ser descrito, aí aonde o espaço das letras perdem o sentido, só a escrita da alma sensível pode mensurar a intensidade das formas gramaticais do coração.
Não sei ao certo que sentimento atravessado na Avenida Presidente Vargas com a Rio Branco é esse. Hoje por exemplo tive a ligeira impressão de que poderia estar a um passo da morte. Quanta bobagem. Deus não me daria essa graça de interpretação, sou humano demais para isso. Até sei que é na humanidade que encontro o alicerce para a santidade, mas minha ríspida vontade de acabar com as horas, nesse momento, é mais forte que eu. Sei que isso vai passar, e essas dores também, entretanto, reconheço que tal carência de estabilidade emocional é sem dúvida, uma grande arma de defesa.
Quando encontro-me nesses dias de tênue amargura, sinto-me como uma criança sem o leite materno: impotente. Mesmo com rigidez personificada em postura e competência, não seria essa uma capa protetora dos homens industrializados pela política no “não sentir”? Quisesse meu Bom Deus me remeter aos 5 anos de idade, lá sim era feliz. Uma felicidade crua e dependente dos sentidos da vida, lá era mais poeta e mais inteligente o suficiente para reconhecer o que me alimenta o que me irrita e o que me alegra.
Quando Mário Quintana diz; “vive em mim inúmeros eu’s” não quer apenas relatar aspectos psicológicos, mas, sobretudo a capacidade de sermos eternos seres em movimento e dotados de imutabilidade. Isso se torna possível, pois existe uma essência transcendente em nós, que não muda. Enquanto isso, num mundo exterior, tratamos de recompor nossa postura social criando um processo de transformação da personalidade. Por isso, que flui em nós a chamada eterna criança, onde residem os sentimentos mais primitivos e humanos no melhor sentido morfológico e interpretativo das palavras.  O olhar simples e puro, o sorriso tímido e a áurea translúcida de Beatriz no retrato com mesmo nome pintado por Tarsila do Amaral fizeram-me reafirmar que a arte, a fé e a emoção estão situadas no mesmo espaço, mesmo que qualquer apatia ou descrença possa abater qualquer coração.
A firmeza em acreditar nisso tudo, faz da emoção preguiçosa e melancólica o combustível necessário para superar os desafios da alma que grita pedindo sentido de seguir fazendo poesia. Eis o significado da dor.


Docinha, docinha.
Minha infância tem gosto de geleia de mocotó,
doce de abóbora, angú com feijão, e banana-maçã.
 Tem cheiro de chuva e de terra molhada.
Minha infância era uma horta só! 

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