Roteiro, ficção científica e os erros de Anon, da Netflix

maio 20, 2018


Foto: Netflix 

A Netflix possui grandes problemas com ficção científica. Diante de uma infinidade de possibilidades no streaming, "Anon" é mais um filme esquecível do catálogo. No início de maio, a gigante do VOD distribuiu mais um longa-metragem do gênero com roteiro e direção de Andrew Niccol. Andrew é conhecido por obras cinematográficas relevantes como “O Show de Truman”, “Gattaca” e “O Senhor das Armas”, mas dessa vez decepcionou na forma como conduziu a sua história.

Um escritor profissional é um amador que não desistiu
Richard Bach

Diante de um mundo cada vez mais complexo onde a busca por atenção é uma guerra constante, como atrair os olhares para um novo filme? "Anon" possui todos os requisitos para a obtenção do sucesso: bom roteirista, boa direção, bons atores e boa equipe técnica. O que deu errado, então? Há na obra uma mensagem social muito forte. É como se o diretor quisesse conscientizar as pessoas de que o uso excessivo da tecnologia pode acabar com o senso de humanidade. De fato, os filmes de ficção científica esbarram nesse espaço de discussão, o que é maravilhoso, desde que não fique chato e professoral. No filme, o subtexto da “luta de classes cibernética” é mais evidente do que a narrativa em si.  Parece um absurdo dizer que faltou escrita visual para um roteirista que escreveu “O Show de Truman”, mas aconteceu. Como analisado no texto anterior, sem suspense e sem a construção de suspense, não há boa premissa que se sustente.

“Esqueça todas as regras que Syd Field, Robert McKee ou qualquer outro guru de roteiros lhe ensinou. Exceto uma: nunca seja chato”.
David Mamet

Ninguém suporta uma história mal contada, sobretudo nos dias atuais. E foi esse o calcanhar de Áquiles de Andrew Niccol. Ele não conseguiu atingir o mesmo nível de sofisticação de demais obras que exploram a temática da segurança e privacidade no mundo digital. Com um público acostumado com o impacto de “Black Mirror”, fica difícil oferecer “qualquer coisa” agora. Para os mais exigentes o filme é ruim e para os diplomáticos o filme possui uma ótima premissa. E possui mesmo. Como “o papel aceita tudo”, a entrega final ficou a desejar, mas com uma sensação de que podia ter sido melhor. Alguns críticos pelo mundo disseram que o diretor preferiu optar por uma imagem fria na tentativa de representar o fim para o qual a humanidade seguirá. Bom, se Niccol voltar ao terceiro episódio de “Black Mirror”, em “The Entire History of You”, verá que o seu filme é apenas uma extensão de uma ideia mal resolvida numa writer’s room.

Quem tiver talento, obterá o êxito na medida em que lhe corresponda. Porém, apenas se persistir naquilo que faz.
Isaac Asimov

Isaac Asimov foi um grande bioquímico e escreveu muito sobre ficção científica. É sempre bom recorrer aos mestres. Eles ajudam a criar o universo de uma obra cinematográfica. É um exercício de pesquisa fundamental para quem deseja produzir para o gênero. Outra referência bem interessante é o aclamado “Violação de Privacidade” com o saudoso Robin Williams. Vale à pena assistir depois dessa decepção fílmica.

Se você tem medo de não conseguir escrever, a resposta é escrever. Cada frase que você constrói adiciona pesa ao prato do equilíbrio. Se você tem medo do que as outras pessoas vão pensar de seus esforços, não as mostre até que você escreva o seu caminho para além do seu medo. Se escrever um livro é impossível, escreva um capítulo. Se escrever um capítulo é impossível, escreva uma página. Se escrever uma página é impossível, escreva uma frase. Se escrever uma frase é impossível, mesmo que seja impossível, escreva uma palavra e ensine tudo o que há para saber sobre essa palavra e, depois, escreva outra palavra conectada e veja onde a conexão delas leva. Uma página por dia é um livro por ano.
Richard Rhodes

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