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Foto: JoĂŁo Augusto
Quando um homem chega ao mundo já recebe várias obrigações, mas uma impera: ser homem. Ser homem, no pior sentido da palavra, revela uma criação caduca das coisas. É essa figura mandatĂłria e autoritária que pretende dominar o mundo e criar ferramentas de defesa contra seu maior obstáculo: o sentimento. O mundo ensinou o homem a nĂŁo perceber sua alma. "Homem nĂŁo chora!" Ă© um slogan que ecoa nas maternidades do planeta. Tudo Ă© masculino: o mundo, o judiciário e Deus. Nessa perspectiva, Ă© difĂcil para muitos perceber outra ideia de ser humano sem tais parâmetros deterministas. A poucos dias, discutia-se no curso de roteiro sobre o conceito de "corpo". O que Ă© isso? NĂŁo existe corpo masculino. A ideia de corpo Ă© a partir da ideia gerada pelo esteriĂłtipo da mulher como coisa. O corpo que estampa Ă© o corpo da mulher, porque Ă© esse o vocativo construĂdo. Ă€ mulher, apenas a "honrosa" vocação de ser uma peça complementar na engenhosa engrenagem que Ă© a vida. Essa falha crucial na determinação de sentidos nas coisas naturais provocou o surgimento de sociedades altamente perigosas fincadas em extremismos. Estabeleceu-se padrões, contratos, regras e leis que, na verdade, sĂŁo indizĂveis frente Ă s ideias libertárias que já circulam no submundo da existĂŞncia humana. Tais aspirações utĂłpicas levarĂŁo a Humanidade para a tentativa primária, e fracassada, da compreensĂŁo da realidade. O ser humano luta por sentido, e já sabe que a resposta nĂŁo existe. SĂłcrates Ă© invicto nessa premissa.
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Diante da complexa figura criada do homem, faz-se necessário despi-lo para convidá-lo, assim como na alegoria de PlatĂŁo, a enxergar que há luz alĂ©m de si. A contemporaneidade Ă© uma Era PossĂvel, cheia de energias transformadoras capazes de iluminar mentes viciadas. As lutas ideolĂłgicas continuarĂŁo, mas já se vislumbra uma necessidade global irreversĂvel: a construção de um novo convĂvio. É chegada a hora de reconstruir o homem e levá-lo a aspirar possibilidades mais criativas. Se o mundo foi criado por um homem, vĂŞ-se que tal modelo já caminha para o fracasso. Se a experiĂŞncia humana Ă© de reconstrução, certamente já Ă© possĂvel prever gerações mais conscientes, colaborativas e sustentáveis, mesmo em dinâmicas de conflito. A construção de novos arranjos, mesmo envoltos de vĂcios do passado - empreendedorismo, economia criativa, marketing do comportamento, coworking, produção de conteĂşdo e outros termos considerados "novos", na verdade, sĂŁo reestruturações na linguagem promovidas pelo poder econĂ´mico para prolongar a sobrevivĂŞncia do capital - já sinalizam para a formação de sociedades mais humanas. É bom lembrar que tudo começou quando a Revolução Industrial promoveu a cultura do encontro entre os agentes, fortalecendo a produção, a indĂşstria e o consumo. As novas tecnologias "sĂł" fortaleceram essa dinâmica como bem nos indicou o saudoso Bauman em suas obras lĂquidas. O homem será convidado a amar sem casamento, a transar com quantos desejar, a nĂŁo trabalhar, a nĂŁo votar, a nĂŁo matricular seus filhos em escolas, a ter uma fĂ© sem Deus e de se perceber mulher.
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É um convite. Mais sensĂvel, o novo homem terá a sua frente um mar de possibilidades, como diz a Palavra em DeuteronĂ´mio 30: "(...) ponho diante de ti a vida e a morte, a bĂŞnção e a maldição. Escolhe, pois, a vida, para que vivas com a tua posteridade". É estarrecedor perceber quanto a Humanidade falhou na defesa da vida. O diretor e roteirista Darren Aronofsky sempre teve em suas obras, uma fixação sobre a interferĂŞncia do religioso nas atividades humanas, mas nada supera seu Ăşltimo filme. "Mother!" Ă© uma obra corajosa, pois extrapola a linguagem cinematográfica. Para o homem sensĂvel, a mensagem de Darren Ă© muito clara e soa quase como um aviso: "Viu o que vocĂŞs fizeram?". Aronofsky faz um convite visual Ă Humanidade. Ao que parece ele nĂŁo foi compreendido, tendo em vista o fracasso de bilheteria. O Ăłbvio Ă s vezes Ă© um espanto. "Apesar de tudo, Jesus dizia: “Pai, perdoa-lhes, pois nĂŁo sabem o que estĂŁo fazendo!”, como consta em JoĂŁo 23. O desafio Ă© imenso, pois o retrocesso polĂtico, a desigualdade social e os medos estĂŁo instalados em todas as estruturas, entretanto, os muros tambĂ©m estĂŁo ruindo. Alguns pensadores, denominam que tais conflitos, sĂŁo na verdade, atritos entre Eras. Nos Ăşltimos anos, estudiosos estĂŁo se concentrando cada vez mais na relação entre ciĂŞncia e espiritualidade. Pra quem se debruça sobre a poesia, nĂŁo há muita dificuldade em entender a conexĂŁo, sem tratar, Ă© claro, das questões religiosas. Estuda-se, na verdade, a experiĂŞncia mĂstica, que será cada vez mais individual. O convite. A FĂsica Quântica já coloca em xeque as noções de realidade e matĂ©ria. Existe algo maior acima de tudo.
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Nessa parte, a lâmpada do quarto queimou. Talvez seja a hora de terminar. Em "Contos de MistĂ©rio e Imaginação", Allan Poe apresenta histĂłrias adubadas com temas bem humanos: morte, sedução, cobiça, poder, magia, medo e mistĂ©rio. É sobre tal pilar que a experiĂŞncia humana está fincada, e essa talvez seja a grande verdade. É diante das transformação do mundo, que o ser humano se transformará, agindo com mais compaixĂŁo, bondade e amor. O pensamento utĂłpico ainda vigora e seus frutos sĂŁo visĂveis. Se pela busca da verdade o homem provocou equĂvocos sem medida, a reparação pela via do amor Ă© a alternativa mais sensata para a sua sobrevivĂŞncia. Em a "Revolução do Amor", Luc Ferry apresenta alternativas viáveis ao elencar elementos para a ressignificação de sentidos. Num mundo assolado em erros, sĂł a busca por algo maior Ă© capaz de guiar os seres humanos para uma compreensĂŁo melhor do que somos. Se sĂł há mistĂ©rio, e bendito seja Deus por isso, o que resta a cada um Ă© amar. Eis o convite.
"Humanidade Ă© um sentimento de benevolĂŞncia por todos os homens que somente se inflama numa alma grande e sensĂvel. Esse nobre e sublime entusiasmo atormenta-se com os sofrimentos dos outros e a necessidade de aliviá-los; desejaria percorrer o universo para abolir a escravidĂŁo, a superstição, o vĂcio e o mal.
Ele esconde-nos os erros de nossos semelhantes ou nos impede de senti-los. Mas nos torna severos para com os crimes: arranca das mãos do celerado a arma que seria funesta ao homem de bem. O que ele faz não é nos afastar de elos particulares, mas, ao contrário, torna-nos amigos melhores, cidadãos melhores, esposos melhores. Ele se apraz em expandir-se pela benevolência em relação aos seres que a natureza aproximou de nós. Vi essa virtude, fonte de tantas outras, em muitas cabeças e em poucos corações".
Denis Diderot
FilĂłsofo
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Diante de um
ano tĂŁo especial para o nosso paĂs Ă© inevitável nĂŁo discutirmos sobre polĂtica
e seus efeitos na sociedade. Mesmos nĂŁo sendo um tema muito aceito entre a
maioria da população em virtude de razões que discutiremos a seguir, a matéria
é fundante para a compreensão do sentido moderno de soberania, participação e
coletividade. Sendo o Brasil uma Nação Democrática, faz-se necessário um debate
cada vez mais interdisciplinar e aberto para alcançarmos a efetivação dos
direitos humanos que dĂŁo razĂŁo Ă atividade polĂtica do Estado.
O termo
polĂtica Ă© derivado do termo grego “politeia” que indica todos os ritos que
envolviam a cidade sociedade daquela Ă©poca. Por isso, a polĂtica Ă© tida como
uma ferramenta tĂŁo irradiante, tanto Ă© assim que o filĂłsofo AristĂłteles afirma
em sua histĂłrica frase que: “O homem Ă© um animal polĂtico”. Mas foi durante a
entrada da Era Moderna que o termo teve uma ascensĂŁo mais crĂtica por apresentar
uma saĂda aos ditames impostos na Era Medieval: era preciso fugir dar amarras
do imperialismo e do poder centralizador. E foram com as Grandes Revoluções que
as ideias começaram a surgir com mais vigor. Aponto a Revolução Francesa como
sendo o maior movimento que gerou a quebra das ideias absolutistas criando uma
noção de direitos sociais e autonomia coletiva.
A polĂtica
possui uma relação estreita com o poder. Se na Era Medieval o poder era
certificado pela “vontade de Deus”, na Era Moderna o poder passou a ser
legitimado através do contrato social, onde pela vontade de todos há a quebra
dos direitos individuais pelo bem comum, ou seja; o fim social. Na Era Contemporânea
com a garantia dos direitos humanos e no caminho de sua efetividade, a
democracia vem sendo tratada com certa irresponsabilidade transformando qualquer
polĂtico em “reis medievais”. O voto legitimador Ă© hoje uma “faca de dois
gumes”, pois efetiva o direito democrático e ao mesmo tempo gera, por conta de
uma ação instrumentalizada, uma apatia geral.
O que fazem
hoje esses falsos polĂticos; Ă queles que se vestem com uma toga de respeito e
boa aparĂŞncia social, que discursam a favor do socialismo e do bem comum, que
apoiam as grandes empresas e utilizam editais formalmente legais para
privilegiar amigos em suas redes de postos de gasolinas, para ter tanto poder?
É simples: eles se fantasiam como bons pastores religiosos criam uma imagem
revolucionária e são dotados de uma oratória peculiar; cheia de emoção e
lembranças comuns e familiares. Andam de forma simples e abraçam a todos
prometendo soluções rápidas para qualquer tipo de problema e ainda garantem que
vĂŁo dividir suas riquezas. Sobem os morros com muito vigor comendo o torresmo
de ontem do povo que sofre aguardando uma consulta ou um exame médico, mas
sorri mostrando-se fiel ao discurso patético e sem correção ortográfica. Esses
mesmos polĂticos sĂŁo rodeados de amigos, companheiros e ex-fiĂ©is por possuĂrem
laços de interesses em virtude de votos estreitos de “companheirismo e luta”. É
gente de sobrenome varonil, imponente e decadente dotados de prepotĂŞncia e
sacas de café. Vivem em seus casarões assombrados pelas lembranças de seus pais
e avĂłs que cobram por ascendĂŞncia social para que seus nomes estejam estampados
em ruas, avenidas, lustres de igrejas e estádios de futebol. São uma burguesia
gorda e de olhos azuis que até se unem aos morenos e ruivos, mas só por um
tempo; se possĂvel atĂ© o fim das eleições.
Nesse
movimento interessante de “falsa polĂtica” a classe artĂstica revela-se como
uma grande força movedora de conhecimento e reflexão, pois a arte como um todo
acaba por influenciar na forma como nos posicionamos no mundo seja para apenas
contemplar o espaço ou interagir com ele. A arte descortina qualquer ignorância
polĂtica. Grandes escritores como Charles Baudelaire e Mário de Andrade foram
personagens que tiveram um envolvimento polĂtico significativo para o
desdobramento da arte como um mecanismo de reflexão e participação social.
Baudelaire é responsável pela desconstrução do mito romancista do poeta e criou
uma poesia urbana, revolucionária e altamente crĂtica. Andrade criou uma sĂ©rie
de ações que considerava importante para a redemocratização do paĂs quando
assumiu o Departamento Municipal de Cultura em São Paulo e até quando pôde
trabalhou pelo fortalecimento do patrimĂ´nio histĂłrico cultural no Brasil. Esse
paralelo entre os poetas nos ajuda a compreender a visĂŁo complexa da vida sob a
Ăłtica polĂtica já que a poesia dos dois nos encaminha para uma atuação social mais
sofisticada e cheia de sentido.
Somos os
artistas de nossa Era. Precisamos reagir frente a toda injustiça preenchendo os
espaços que nos cabe de direito. Ocupemos as ruas, os blog’s e as igrejas para mostrar
que podemos sim discutir os temas com liberdade, pois Ă© daĂ que brota a vontade
de mudar. Nossos polĂticos sĂŁo o reflexo da conjuntura social por isso
precisamos estar sadios para escolhermos pessoas sensĂveis e que estejam de
fato, comprometidas com os valores que nos envolvem. Faço questĂŁo de mencionar a obra “Der Meridian” do escritor Paul Celan
onde declara que: “Quem tem a arte diante
dos olhos e no sentido [...] esquece-se de si. A arte cria o distanciamento do
eu” (Celan, P.: 1961, 48-9). Neste sentido, a poesia pode ser uma grande
ferramenta para que tenhamos polĂticos mais voltados para o “nĂłs” fugindo de
interesses pessoais desmascarando qualquer corrupção e formando um novo
conceito de poder, cada vez mais flexĂvel Ă s emoções da FamĂlia Humana.
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André Malraux, primeiro Ministro da Cultura da França |
Quando os primeiros humanos
pintavam nas suas cavernas imagens de animais e da natureza em que habitavam,
estavam tendo uma experiĂŞncia mĂstica com a beleza. Era a primeira demonstração
de que promoviam internamente um processo de significação que lhes ofereciam um
afago às indagações daquele momento. Esses humanos perceberam que havia algo
mais relevante que somente comer o boi, a planta, a fruta ou beber da água
do riacho.
Ao longo de sua caminhada, a Humanidade foi perdendo essa reflexĂŁo originária quando se deparou com as riquezas materiais e os conceitos pragmáticos. As descobertas de novos paĂses, as dominações por territĂłrios e as lutas por poder polĂtico e econĂ´mico, fizeram do homem um sujeito voltado para o controle das coisas. O pensamento filosĂłfico e a religiosidade foram perdendo espaço no mundo do pensamento. Com isso, construiu-se uma falsa educação de desenvolvimento onde o progresso deve pautar as ações do Estado e das comunidades. Com a crise dos paĂses tradicionais verificou-se a necessidade de uma nova leitura dos sistemas econĂ´micos, estes sendo dominados por valores e princĂpios afim de proteger o homem global.
Ao longo de sua caminhada, a Humanidade foi perdendo essa reflexĂŁo originária quando se deparou com as riquezas materiais e os conceitos pragmáticos. As descobertas de novos paĂses, as dominações por territĂłrios e as lutas por poder polĂtico e econĂ´mico, fizeram do homem um sujeito voltado para o controle das coisas. O pensamento filosĂłfico e a religiosidade foram perdendo espaço no mundo do pensamento. Com isso, construiu-se uma falsa educação de desenvolvimento onde o progresso deve pautar as ações do Estado e das comunidades. Com a crise dos paĂses tradicionais verificou-se a necessidade de uma nova leitura dos sistemas econĂ´micos, estes sendo dominados por valores e princĂpios afim de proteger o homem global.
Nessa dimensĂŁo, a poesia e o
pensamento filosĂłfico ganharam fĂ´lego nos debates transdisciplinares. Em meio Ă teorias e frases de efeito, a contemporaneidade patina na busca permanente por sentido. Na
educação tradicional, as pessoas aprenderam que para que algo seja considerado
real Ă© preciso que seja materializado, desprezando noções filosĂłficas e intangĂveis, enraizando conceitos meramente estruturados. O problema Ă© que por mais que essas mesmas pessoas busquem em sua total racionalidade,
nunca alcançarĂŁo a compreensĂŁo do que significa a vida em sua plenitude. Neste sentido, o homem, para fugir do medo e da morte, busca atravĂ©s atravĂ©s da poesia e da arte, as ferramentas necessárias para transformar toda a limitação em algo superior e indizĂvel
A arte através de sua forma é uma grande
ferramenta para o desenvolvimento da educação e da busca pelo sentido das
coisas. A beleza Ă© democrática e livre, aberta a todos os indivĂduos sem
distinção de qualquer natureza e deve estar atrelada ao sentido de economia. Todos
desejam a felicidade, a harmonia e o equilĂbrio. A arte tem a capacidade de
humanizar as pessoas, pois é capaz de instrumentalizar os sentimentos tornando-os obras materiais como um quadro ou uma música. É por isso que mesmo um texto que foi
escrito há décadas, continua tendo a mesma capacidade emotiva mesmo com o passar dos tempos. O
ser humano tem uma luta inviável contra o tempo, pois este é fragmentado uma
vez que a vida social Ă© recheada de compromissos. Nesse sentido, quando um ser
humano depara-se com uma obra de arte ele vĂŞ ali a oportunidade do registro fixo
e permanente de sua emoção. É por isso que todos precisam de beleza.
É uma pena que a produção
intelectual contemporânea dê mais espaço ao artista que à própria obra de arte,
esquecendo que o produtor Ă© apenas uma ferramenta de um processo bem mais
significativo. É preciso acreditar na arte como
fonte inesgotável de beleza e sentido, pois representa uma ação bem mais eficaz
e sofisticada para que a sociedade alcance o desenvolvimento que tanto busca,
porém, de uma forma mais consciente.
Limitação
Vivo num quadrado.
Nele sou o que
posso ser.
Deus grita em meu peito
dizendo:
“ResiliĂŞncia!
ResiliĂŞncia!”
Nas mĂŁos Dele, vivo
como ferro Ă espera de ser fundido.
Crente, aguardo o
fogo nesse mesmo quadrado.
Espero a hora e
rezo:
“Que
seja agora. Que eu saia daqui!”.
Diante das transformações advindas do processo de globalização dos Ăşltimos anos, a sociedade mundial sofreu uma flexibilização de valores, regras, normas e conceitos em virtude da aproximação de realidades entre regiões. Com isso, muitos avanços sociais, culturais, econĂ´micos e polĂticos marcaram presença nessa nova fase global. PorĂ©m muito se estuda sobre a decadĂŞncia dos institutos tradicionais que antes basearam a convivĂŞncia entre os entes. Parece claro afirmar que o capitalismo como sistema complexo e rentável que Ă© está levando o planeta a enfrentar mais uma grande crise intelectual.
Segundo a terceira
edição da pesquisa; “Retratos da Leitura no Brasil”, apresentada em março deste
ano Ă Câmara dos Deputados, revelou que a população leitora diminuiu no PaĂs.
Enquanto em 2007 55% dos brasileiros se diziam leitores, hoje esse porcentual
caiu para 50%. As explicações são as mais diversas e a busca por razões responsáveis
por essa queda também, mas o que recai como principal é a falta de gestão desse
setor para a melhora do acesso aos livros Ă s demandas carentes. Triste ainda Ă©
constatar que o Brasil Ă© um paĂs de cultura televisiva; os dados da mesma pesquisa
apontam que 85% dos entrevistados assistiam mais TV que liam livros ou outros
periféricos. Se a qualidade dos programas não é sofisticada, cria-se uma nova
edição mais atualizada do “PĂŁo e Circo”. DaĂ surge a necessidade da sociedade
criar novas maneiras de propagar a leitura nos mais diversos meios. Essa falta
de brasileiros leitores está gerando um “agreste intelectual” nas universidades
e faculdades do Brasil. Basta entrar nas bibliotecas de todas elas para
encontrarmos bastante espaço e a falta de alunos. Mas essa não pode ser a
primeira indicação, pois o paĂs ainda avança na introdução de jovens ao ensino
superior.
Nos Ăşltimos anos,
muitas faculdades privadas do Estado do Rio de Janeiro vêm sofrendo uma série
de crises. Muitas delas já fecharam suas unidades ou promoveram uma fusão com
outras empresas para tentar sair dos problemas. Entretanto, o cenário
educacional preocupa, pois se percebe a falta de administração das
instituições, a superficial fiscalização dos órgãos reguladores e a carência na
modernização das plataformas tradicionais. Aliás, esse talvez seja o maior dos de
todos os problemas. Diante dos avanços
culturais, o sistema educacional do Brasil ainda nĂŁo acompanha o progresso
global, não por falta de condição econômica, mas por falta de interesse
polĂtico e pela ineficácia dos gestores que coordenam a matĂ©ria no paĂs.
Nesse sentido, a
Sociologia apresenta a formação da estrutura social sendo a economia; a
superestrutura que sustenta os outros andares dessa pirâmide. Ora, se todas as
demais organizações estĂŁo subordinadas de forma intrĂnseca ou extrĂnseca Ă s
demandas econĂ´micas, se faz claro afirmar que diante da atual conjuntura de
crises mundiais; o capitalismo necessita de modificações. Quando no campo do
Direito da Integração se discute as possibilidades de colaboração entre os
Estados; há que se discutir duas correntes principais: a monista; que acredita
que a soberania individual dos Entes nĂŁo deve ser flexibilizada, e a corrente
dualista: que pleiteia a aderĂŞncia por todos os ĂłrgĂŁos institucionalizados num
mesmo bloco. Há ainda, uma nova corrente que já permite a discussão de uma
teoria mista; onde a soberania estatal poderia ser lĂquida, mas que pudesse ser
flexibilizada em casos especĂficos em virtude dos interesses econĂ´micos comuns.
Porém, como bem se sabe;
a soberania Norte Americana hoje ameaçada pela potência Chinesa, ainda se faz
forte nas mais profundas relações comerciais que regem os paĂses em
desenvolvimento, fazendo destes, verdadeiros campos de interesses e exploração,
repetindo os moldes das antigas colonizações. Algumas indagações ressoam pelo
ar na busca de medidas para enfrentar tal opressĂŁo norte americana e atingir
uma liberdade global, que muitas vezes surge como utĂłpica. Entretanto, algumas
alternativas tĂŞm estado presentes nos cenários independentes do paĂs, fora dos
padrões educacionais existentes.
A sociedade possui
uma imensa dificuldade de pensar “poĂ©ticamente”, pois a razĂŁo; instrumento de
trabalho advindo da Escola Iluminista; fez com que muitas vezes os pensamentos
se engessem impedindo que novas formas de irradiação do conhecimento; como a
intuição e a sensibilidade; fossem difundidos nos espaços acadêmicos. A
educação jurĂdica tradicional está cumprindo brilhantemente o seu papel
oferecendo cursos pragmáticos, formando bacharéis em grande escala, porém, sem
sofisticação. Pensar de forma integral e sistêmica está sendo a maior dificuldade
dos jovens brasileiros devido a falta de leitura, a introdução de modelos
ultrapassados e fora dos novos contextos globais. NĂŁo existe crescimento
profissional fora do contexto social interdisciplinar.
As novas discussões
ressaltam a importância de gerar efeitos difusos através dos pensamentos
interligados sobre as realidades locais, por meio de uma visĂŁo rica e plural. Sendo
assim; matĂ©rias cientĂficas sempre estarĂŁo envolvidas uma com as outras, pois
as necessidades do tempo atual referem-se de maneira cada vez mais complexa.
Pensar de forma sofisticada é abrir as possibilidades para novas dimensões do
saber para que com o processo de desenvolvimento do conhecimento, pessoas que
nunca tiveram acesso aos livros, Ă internet ou a qualquer outro modo de
difusão, estejam preparadas e cientes da nova ordem mundial que já se vislumbra.
O filĂłsofo Zigmunt Bauman,
por meio de seu livro “Tempos LĂquidos”, refere-se a esse tempo que está sendo domesticado
pelos avanços tecnológicos e capitalistas, dificultando o processo de
aprendizagem, emperrando as relações amorosas e gerando uma desestruturação dos
valores morais. Com isso; as pessoas buscam respostas imediatas e soluções
instantâneas esquecendo-se de que a vida é feita de momentos, sinais e
ponderações. Na verdade, essa depressão social; gerada pela violência que é
instaurada propositalmente, faz com que os indivĂduos percam suas referĂŞncias
mais profundas e familiares, deixando de lado; o pensamento filosĂłfico, a
produção poética e transformando o poder cultural apenas em valor material.
O grande desafio diante dessa conjuntura Ă© proporcionar em cada
realidade diária a difusão de novas plataformas do conhecimento com o intuito
de gerar uma consciĂŞncia global de que o pensamento e a intelectualidade Ă© a
maior riqueza de que as pessoas sĂŁo dotadas. O problema Ă© que durante muitos
anos, fizeram com que essa informação fosse aterrada para que ordens dominantes
pudessem continuar no poder. Porém, surge no horizonte uma mensagem de
liberdade e desenvolvimento que faz com que a energia criativa do ser humano
seja valorizada como um tesouro indisponĂvel. Produzir uma educação integral sofisticada
Ă© possĂvel se os agentes educacionais estiverem revestidos de tĂ©cnica e
sensibilidade para promover a abertura de caminhos necessários a fim de
determinar a produção intelectual como o bem capaz de transformar qualquer
realidade.